Friday, August 7, 2009

Brave New World

(Brave New World (Admirável Mundo Novo), por Aldous Huxley, publicado em 1932: lá vou eu escrever resenha desse super lançamento de quase 80 anos atrás.)

Como pode alguém escrever um livro entre os anos 20 e 30, e ainda assim acertar com tanta precisão o futuro? Não é exatamente um livro futurista, nem de ficção científica, ou apenas de sátira social, mas se encaixaria nessas prateleiras. É um livro bizarro, porque apenas mudando os nomes, descreve boa parte da nossa realidade. Mas como disse, o livro foi escrito antes dessa "nossa realidade" existir, ou pelo menos antes de ela estar sólida. Considero aqui como realidade o mundo após o final da Segunda Guerra, com todo o desenvolvimento tecnológico, o padrão de vida de primeiro mundo se espalhando, a explosão dos meios de comunicação (televisão e internet, principalmente) e todas as coisinhas que derivaram dessas mudanças.

O livro conta a história da humanidade durante a era de "Ford". Sim, o Ford dos carros, que estabeleceu as linhas de produção e ajudou na massificação do consumo. Alguém aí já leu 1984, ou viu o filme? Big Brother da TV não conta! 1984 está para o comunismo como Brave New World está para o capitalismo.

Na parte social, a previsão se mostrou bem correta, não sei se é por causa daquela máxima de que pessoas não mudam(1), e então qualquer bom observador vai conseguir prever o futuro do homem e da sociedade, já que esse futuro será o mesmo que o presente. Mas não me parece ser o caso, já que... bom, que leia o livro quem quiser, senão começarei a encher este post de spoilers.
Em suma, o autor previu um mundo de consumismo e futilidades, controlado por uma elite que manipula a mídia e as outras instituições, de modo que não haja dor, amor real, medo, ou qualquer outra forma de sofrimento (sim, pode incluir amor nisso também, e o livro explica melhor). A religião é trocada por um culto louco a Ford (que em português dá um efeito cômico especial, pois variações da palavra... bom, vocês sabem) e a ciência e as artes são esmagadas pela futilidade, e não pela censura. As pessoas vivem alegres, alheias e alcoolizadas, e qualquer desvio do padrão é visto como errado ou desnecessário. Ia escrever embriagadas no lugar de alcoolizadas, mas essa aliteração (ha!) ficou tão bonitinha que deixei assim mesmo.

O livro peca um pouco nas previsões tecnológicas: helicópteros voando por aí como carros (mas pelo menos não são carros voadores), o fato de ter que ir pra algum lugar como os correios para se comunicar rapidamente, ou a conceito de ensinamentos "hipnopédicos" (durante o sono). Erra principalmente ao retratar a reprodução literalmente in vitro. Se o autor soubesse o quanto a reprodução descontrolada ajudaria a moldar o resto do cenário do livro de forma mais próxima à realidade...
Mas são erros perdoáveis. Afinal, imaginar tecnologia do futuro é pedir para errar, ninguém mandou tentar. Apesar disso, o próprio autor afirmou no prefácio (escrito muitos anos depois) que a estória não é sobre a tecnologia em si, mas as suas consequências na vida humana.
Mas ainda assim, transformando foguetes em jatos comerciais, ensinamentos hipnopédicos por TV e música sintética em boa parte do que ouvimos hoje, fica tudo bem plausível. E tem o soma também, que é o equivalente do álcool talvez, mas sem os vômitos. E o ensinamento que diz que todo mundo é de todos, que não só tem uma assustadora semelhança com os versos de uma conhecida música brasileira, mas também serve para descrever muito do que se vê por aí...

Muitas vezes os "civilizados" acabaram por me lembrar da nossa mundo de pessoas quietinhas, controladas, bem amamentadas, propensas a desistir diante de dificuldades, e todo o resto. E não vou ser cínico de não me incluir nessa realidade também. Se tudo isso é normal e passageiro? Não sei...
Mas que o livro assusta, por parecer tão próximo, assusta.

(1) "People don't change"
-- Dr. House
Fiz isso por bobeira. O livro (pelo menos minha edição) é lotado de frases ditas pelo selvagem e detalhadas no rodapé, que remetem, principamente, a Shakespeare. Enche o saco, mas é legal.

4 comments:

  1. Talvez eu dê uma nova chance ao livro.
    Lembro de ter começado a ler, achei chato e irritante, parei. Mas eu tinha 13 anos na época, então...
    No lugar dele eu li o Revolução dos Bichos - que por sinal é do mesmo autor do 1984 (George Orwell).

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  2. Oh hi, e eu fiz o mesmo! Só que foi Animal Farm que eu parei de ler com 13 anos. Acho que não porque achei chato (me lembro de entender apenas parcialmente), mas porque eu tinha algum jogo de computador legal, ou algo assim :D
    Preciso continuar a leitura...

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  3. Parece um livro interessante, só que eu nunca consigo ler um livro inteiro. Quem sabe algum dia eu leio esse... Mas sobre a previsão do futuro, não é muito precisa. Tá, a parte da embriaguez e futilidade. Mas dã, desde quando o mundo não é assim? Talvez ele acertou na parte da "massificação" desse tipo de pensamento. Culto à futilidade ao invés de religião, mas nós sempre fomos bêbados superficiais.

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  4. Hum... interessante sua análise do livro aush... realmente o ser humano nao muda, entao ate q da pra "prever" algumas coisas se ficar sentado no vaso pensando... eh legal ver tbm como a gente começa com esses coisa de 1984 e etc sempre pelo lado comunista auha, eu pelo menos, dps ve q eh babakisse e se volta para a realidade, viva o capitalismo! uahs, mas mto legal Allan, ja ouvir falar de Ayn Rand?

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